segunda-feira, 20 de julho de 2015

Coluna Família Educação - Por Olavo Oliveira - Administrador Escolar

Apenas uma ponte
  
Chegara, enfim, os últimos dias de aulas do primeiro semestre. Havia sido uma longa trajetória até ali. Mas, agora, o professor observava com ternura os alunos à sua frente. Todos voltados para o seu caderno, fazendo a lição que colocaria ponto final à primeira parte da sua amorosa missão.  Quantas mudanças! Quantas conquistas!
Então, pensativo, ele se recordou do primeiro encontro com aquela turma. Todos o miravam com curiosidade, ansiosos pelo conhecimento que imaginavam lhe pertenciam. Não tinham ideia de que aprenderiam por si mesmos, e que ele, mestre, não era a árvore da sabedoria, mas apenas uma ponte que os levaria à sua copa frondosa.
Naquele dia, experimentara outra vez a emoção de se deparar com uma nova turma, e o que o motivava a ensinar, com tanta generosidade, era justamente o desafio de enfrentar esse mistério.
Sim, uma ponte. Uma ponte por onde transitasse os sonhos daquelas crianças, o movimento incessante de seus desejos. O ir e vir das suas dúvidas, o vaivém de um aprendizado lento, mas constante.
Lembrou-se das dificuldades da Julia nas operações matemáticas. O resultado correto era um território que nem sempre ela conseguia atingir. Mas, agora estava lá, segura da direção que deveria tomar. Ele fizera a ponte.
O que dizer das diferenças entre José e o Augusto no início do ano, ambos se rejeitando em silêncio, deixando de desfrutar da aventura de uma grande amizade? Com paciência, ele os unira. Desde então, não se desgrudavam. Podia vê-los dali, de sua mesa, um ao lado do outro, concentrados em fazer a tarefa.
Já a Sílvia, dona de uma letra redondinha, ainda há pouco, lhe dera um sorriso. Antes, contudo, vivia irritada, a letra sem apuro só garranchos. Fizera aponte para ela.
Mateus, a sua frente, detestava ciências e fugia das aulas. Talvez porque só via dificuldades na travessia e não as maravilhas que o esperavam no outro extremo. O professor lhe estendera a mão e o conduzira, até que, subitamente, ele se tornara o melhor aluno naquela matéria.
Tinha também a Alessandra, tão silenciosa e tímida. Fora bem nos primeiros meses e, depois, o rendimento caíra. Ele descobrira que os pais dela viviam em conflito. Alertara-os para que dessem mais afeto à filha, e eis que ela florescera, voltando a ser uma boa aluna.
E lá estava, nas últimas fileiras, o Fábio. Notara suas limitações e construíra uma ponte especial para ele, mas o menino não conseguira atravessá-la. Era assim: Para alguns, bastavam uns passos; para outros, o percurso se encompridava.
O professor suspirou. Fizera o seu melhor. Lembrou-se das palavras de Guimarães Rosa: “Ensinar é, de repente aprender”. Sim, aprendera muito com seus alunos. Aquelas crianças haviam igualmente ligado pontos em suas vidas.
Agora, seguiriam para um pequeno descanso de férias... Certamente haveriam de encontrar pontes, mas, já em melhores condições para superar as dificuldades do caminho. Ele permaneceria ali, esperando-os para levá-los até a outra margem. E o tempo, como um viaduto, haveria de conduzi-lo à emoção de novos mistérios que o aguardam...
Desejo de coração, um maravilhoso descanso para todos!


“Que Deus Pai Querido os acompanhe e os proteja em todos os momentos.”