Apenas uma ponte
Chegara,
enfim, os últimos dias de aulas do primeiro semestre. Havia sido uma longa
trajetória até ali. Mas, agora, o professor observava com ternura os alunos à
sua frente. Todos voltados para o seu caderno, fazendo a lição que colocaria
ponto final à primeira parte da sua amorosa missão. Quantas mudanças! Quantas conquistas!
Então,
pensativo, ele se recordou do primeiro encontro com aquela turma. Todos o
miravam com curiosidade, ansiosos pelo conhecimento que imaginavam lhe
pertenciam. Não tinham ideia de que aprenderiam por si mesmos, e que ele,
mestre, não era a árvore da sabedoria, mas apenas uma ponte que os levaria à
sua copa frondosa.
Naquele dia,
experimentara outra vez a emoção de se deparar com uma nova turma, e o que o
motivava a ensinar, com tanta generosidade, era justamente o desafio de
enfrentar esse mistério.
Sim, uma ponte. Uma ponte
por onde transitasse os sonhos daquelas crianças, o movimento incessante de
seus desejos. O ir e vir das suas dúvidas, o vaivém de um aprendizado lento,
mas constante.
Lembrou-se das
dificuldades da Julia nas operações matemáticas. O resultado correto era um
território que nem sempre ela conseguia atingir. Mas, agora estava lá, segura
da direção que deveria tomar. Ele fizera a ponte.
O que dizer
das diferenças entre José e o Augusto no início do ano, ambos se rejeitando em
silêncio, deixando de desfrutar da aventura de uma grande amizade? Com
paciência, ele os unira. Desde então, não se desgrudavam. Podia vê-los dali, de
sua mesa, um ao lado do outro, concentrados em fazer a tarefa.
Já a Sílvia,
dona de uma letra redondinha, ainda há pouco, lhe dera um sorriso. Antes,
contudo, vivia irritada, a letra sem apuro só garranchos. Fizera aponte para
ela.
Mateus, a sua
frente, detestava ciências e fugia das aulas. Talvez porque só via dificuldades
na travessia e não as maravilhas que o esperavam no outro extremo. O professor
lhe estendera a mão e o conduzira, até que, subitamente, ele se tornara o
melhor aluno naquela matéria.
Tinha também a
Alessandra, tão silenciosa e tímida. Fora bem nos primeiros meses e, depois, o
rendimento caíra. Ele descobrira que os pais dela viviam em conflito. Alertara-os
para que dessem mais afeto à filha, e eis que ela florescera, voltando a ser
uma boa aluna.
E lá estava, nas últimas
fileiras, o Fábio. Notara suas limitações e construíra uma ponte especial para
ele, mas o menino não conseguira atravessá-la. Era assim: Para alguns, bastavam
uns passos; para outros, o percurso se encompridava.
O professor
suspirou. Fizera o seu melhor. Lembrou-se das palavras de Guimarães Rosa:
“Ensinar é, de repente aprender”. Sim, aprendera muito com seus alunos. Aquelas
crianças haviam igualmente ligado pontos em suas vidas.
Agora, seguiriam para um
pequeno descanso de férias... Certamente haveriam de encontrar pontes, mas, já
em melhores condições para superar as dificuldades do caminho. Ele permaneceria
ali, esperando-os para levá-los até a outra margem. E o tempo, como um viaduto,
haveria de conduzi-lo à emoção de novos mistérios que o aguardam...
Desejo de coração, um
maravilhoso descanso para todos!
“Que
Deus Pai Querido os acompanhe e os proteja em todos os momentos.”