sexta-feira, 10 de abril de 2015

Coluna Família Educação - Por Olavo Oliveira - Administrador Escolar

                                                   Uma crônica sobre o viver

            Era seu último dia de vida, mas ele não sabia disso.
         Naquela manhã, sentiu vontade de dormir mais um pouco. Estava cansado porque na noite anterior fora se deitar muito tarde. Mas logo abandonou a idéia de ficar um pouco mais na cama e se levantou, pensando na montanha de coisas que precisava fazer na empresa.
            Lavou o rosto e fez a barba correndo. Não chegou a prestar atenção no rosto cansado nem nas olheiras escuras, resultado das noites maldormidas.
            “A vida é uma seqüência de dias vazios que precisamos preencher”, pensou enquanto jogava a roupa por cima do corpo.
         Engoliu o café e saiu resmungando baixinho um “bom-dia”, sem convicção. Desprezou os lábios da esposa, que se ofereciam para um beijo de despedida. Não notou que os olhos dela ainda guardavam a doçura de mulher apaixonada, mesmo depois de tantos anos de casamento. Não entendia porque ela se queixava tanto da ausência dele e vivia reivindicando mais tempo para ficarem juntos. Ele estava conseguindo manter o elevado padrão de vida da família, não estava? Isso não bastava?
            Não teve tempo para esquentar o carro. Deu partida e acelerou. Ligou o rádio, que tocava uma antiga canção de Roberto Carlos, “detalhes tão pequenos de nós dois”...
            Pensou que não tinha mais tempo para curtir detalhes tão pequenos da vida. Isso fazia parte de outra época, quando podia se divertir mais.
         Pegou o telefone e ligou para sua filha. Sorriu quando soube que seu netinho havia dado os primeiros passos. Ficou sério quando a filha lembrou-o de que há tempos não aparecia para ver o neto. Desculpou-se.
          Chegou à empresa e mal cumprimentou as pessoas, tantos eram os compromissos a resolver.
         No que seria sua hora do almoço, pediu para a secretária trazer um sanduíche e refrigerante diet. O colesterol estava alto, precisava fazer exames, mas isso ficaria para depois.
Começou a comer enquanto lia alguns papéis da reunião da tarde. Nem observou que tipo de lanche estava comendo. De repente sentiu um pouco de tontura, a vista embaraçou. Lembrou-se do médico advertindo-o, de que estava na hora de fazer um check-up. Mas logo concluiu que era mal-estar passageiro. “A vida continua”, pensou. São muitos os compromissos a cumprir. Nem tudo saia como ele queria. Começou a gritar com os empregados. Afinal ele também era pressionado pela diretoria. Tinha que mostrar resultados.
            Saiu para a reunião já um pouco atrasado. Não esperou o elevador. Desceu as escadas pulando de dois em dois degraus. Parecia que a garagem estava a quilômetros de distância.
          Entrou no carro, deu partida e, quando ia engatar a primeira marcha, sentiu de novo o mal–estar. Agora havia uma dor forte no peito. O ar começou a faltar... a dor foi aumentando...o carro sumiu do seu controle...Os pilares, as paredes, a claridade da rua, tudo foi sumindo diante dos seus olhos, ao mesmo tempo em que surgiam cenas de um filme que ele conhecia bem. Quadro a quadro, ele via a esposa, o netinho, a filha e, uma após outra, todas as pessoas de que mais gostava.
            Por que não tinha ido almoçar com a filha e o neto? O que a esposa tinha dito à porta de casa quando ele estava saindo, pela manhã? Por que não foi pescar com os amigos no ultimo final de semana? A dor no peito persistia, mas agora outra dor começava a perturbá-lo: A dor do arrependimento. Ele não conseguia distinguir qual era a mais forte, a dor da coronária entupida ou de sua alma rasgando.
            Escutou o barulho de alguma coisa quebrando dentro de seu coração, e de seus olhos escorreram lágrimas silenciosas. Queria viver, queria ter mais uma chance, queria voltar para casa e beijar a esposa, abraçar a filha, brincar com o neto... Queria... Queria... Mas não havia mais tempo...

Shinvashiki           

Quando observo o estilo de vida da maioria das pessoas, percebo que o final do filme é sempre triste. Muita correria sem sentido, vida cheia de preocupações, falta de alegria e angústia.
Pais que mesmo amando os filhos não conseguem transformá-los em adultos bem formados. Gente rica agindo de modo mesquinho em relação ao próximo.
A vida de muitas pessoas é a história de príncipes vivendo como mendigos.

Quando as pessoas descobrem a beleza que carregam na alma, logo se dão conta das infinitas possibilidades de transformação que podem realizar em suas vidas.